Colapso no AM: paciente com ferida sai de hospital com pneumonia, anemia e risco de amputação 553z6a
Amazonas – A saúde pública no estado do Amazonas enfrenta um colapso cada vez mais visível. Faltam médicos, medicamentos, materiais de higiene, insumos básicos e até lençóis em hospitais da capital e do interior. Enquanto isso, o governo do estado mantém uma narrativa publicitária de eficiência que não condiz com a realidade vivida por pacientes e profissionais da rede.
No Hospital Regional José Mendes, em Itacoatiara, a situação é crítica. A unidade sofre com a escassez de profissionais, remédios e estrutura básica. O cenário alarmante levou o Ministério Público a intervir, emitindo recomendações urgentes para evitar riscos à vida de pacientes.
Em Manaus, o retrato não é diferente. No Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo, uma das principais referências do estado, denúncias apontam para o colapso total. Atrasos salariais, jornadas exaustivas, e falta de insumos essenciais colocam em risco o atendimento.
A história de Ozair Gomes Brito, de 56 anos, retrata o drama. Diabético, ele foi transferido de Rio Preto da Eva para o Platão Araújo com uma ferida no pé. Mesmo com recomendação de um cirurgião vascular, ou três dias sentado em uma poltrona, sem leito, antibióticos ou curativos. A glicose disparou e ele contraiu novas feridas na unidade.
A esposa, Antônia Brito, precisou buscar insulina no interior, pois o hospital não tinha o medicamento disponível. “Disseram que não podiam fazer nada por falta de material. Só depois de muita reclamação conseguiram transferi-lo. Mas não tinha lençol, nem insulina. Tive que ir buscar uma caneta de insulina em Rio Preto”, conta.
Durante a internação, Ozair apresentou tosse, febre alta, dor abdominal, vômitos e sangramento. Nenhuma ação foi tomada no hospital. Só após procurar outra unidade, a família descobriu que ele havia desenvolvido pneumonia, coração dilatado, úlcera intestinal e anemia profunda. “Lá no Platão só pensam em amputar. Entrou com uma ferida e já queriam cortar a perna”, denuncia Antônia.
Ao retornar ao Platão Araújo para pedir tratamento adequado, a resposta foi categórica: ou amputava, ou seria liberado. Diante disso, ela optou por levar o marido para casa. “Hoje cuido sozinha. Tenho medo de voltar para aquele hospital”, afirma.
Enquanto casos como o de Ozair se multiplicam, o governador Wilson Lima permanece distante de soluções concretas. A propaganda oficial exibe uma rede de saúde moderna e eficiente, mas quem procura atendimento encontra um cenário de negligência, sofrimento e abandono.
Até o momento, a Secretaria de Comunicação (SECOM) e a Secretaria de Estado da Saúde (SEAS) questionando sobre as denúncias. Até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.
Entre os questionamentos enviados, estão:
– Como o governo justifica a diferença entre a propaganda institucional e a realidade dos hospitais?
– Quais medidas emergenciais estão sendo adotadas para normalizar o fornecimento de medicamentos e materiais básicos?
– Por que há falta de insulina, antibióticos e lençóis em hospitais de referência?
– O governador reconhece falhas na gestão da saúde pública?
– Existe intenção de rever os contratos com Organizações Sociais ou o modelo atual de comunicação oficial?
Enquanto não há respostas, a população continua adoecendo — e morrendo — nas filas de um sistema em colapso.